Japoneses encaram a nova realidade do emprego

 

Japoneses encaram a nova realidade do emprego

Antes, pessoas ficavam a vida inteira em um só emprego; agora, têm de se adaptar a uma dupla ou tripla jornada de trabalho para pagar as contas.

 

OSAKA – Das 9h às 17h, Hiroko Yokogawa trabalha em um pequeno escritório de arquitetura, fazendo um trabalho burocrático e administrando a contabilidade. Mas essa é apenas sua jornada de trabalho "oficial". Em casa, depois do escritório, ela promove produtos e lojas em seu blog, encontra clientes e dá conselhos de como harmonizar vida e trabalho.

 

 

Hiroko, de 32 anos, ganha cerca de um terço do total de sua renda com bicos, que exigem dela em média três horas por dia durante a semana e cerca de cinco horas nos fins de semana. "Não que eu não goste do meu emprego, mas quero ter uma renda estável sem depender completamente da companhia", afirma. "Comecei fazendo horas extras para ter um pouco mais de folga – dinheiro para gastar com coisas da moda, para sair ou poupar. Agora, procuro fazer um trabalho que me seja útil no futuro."

Por décadas, a carreira normal no Japão começava com um diploma de faculdade e o ingresso numa empresa, onde o funcionário permanecia até se aposentar – um emprego para a vida toda. Mas, com uma queda de mais de 12% nos salários pagos na última década, em um mercado de trabalho incerto, os jovens japoneses, principalmente os solteiros, só conseguem equilibrar renda e gastos com um segundo ou até terceiro emprego.

Complemento

Alguns entregam folhetos ou trabalham em lojas de conveniência. Outros negociam divisas pela internet. Outros ainda vendem produtos em sites de leilões. Levantamento feito em janeiro pela empresa de pesquisa Ishare concluiu que 17% dos trabalhadores com idades entre 20 e 50 anos têm um emprego complementar.

Apesar da longa jornada de trabalho – a oitava mais longa do mundo -, cerca de 50% dos trabalhadores entrevistados no ano passado numa pesquisa do Instituto para a Política do Trabalho e Treinamento do Japão, ligado ao governo, manifestaram interesse em manter um segundo emprego. Cerca de 90% dos ouvidos disseram que o motivo principal era o desejo de ter dinheiro extra para os gastos.

"A causa principal do aumento é que os jovens procuram arredondar seus rendimentos a curto prazo por conta das graves condições econômicas e de renda", disse Toshihiro Nagahama, economista-chefe do Dai-Ichi Life Research Institute de Tóquio. "Mas é também uma maneira de administrar o risco encontrada pelos trabalhadores que têm medo de perder seu emprego principal." A taxa de desemprego no Japão foi de 5,2% em julho.

Embora baixa pelos padrões internacionais, constitui quase um recorde para o país. A economia japonesa continua estagnada, com o ônus de uma população idosa e um baixo índice de natalidade, deflação e o iene forte, que prejudica as exportações.

Segundo dados da Agência Nacional do Fisco, o salário médio anual para os trabalhadores japoneses acima dos 20 anos caiu de US$ 33.635 em 1997 para US$ 29.470 em 2008 (último ano com dados disponíveis).

Sem hora extra

Números divulgados na semana passada pelo Ministério do Trabalho do Japão mostram que 56% dos trabalhadores de 15 a 34 anos precisam de outra fonte de renda para conseguir pagar as contas. A renda disponível foi gravemente afetada desde a crise global, e muitas companhias eliminaram as horas extras para economizar.

O sistema japonês de emprego vitalício começou a se quebrar há 20 anos, com o estouro da bolha econômica em 1991. Trabalhadores como Hiroko já se familiarizaram com a nova realidade, embora ela perceba que as mudanças têm sido onerosas para a sua geração.

"Pessoas com mais de 20 anos já cresceram acostumadas a uma economia pobre, mas nós, com mais de 30, crescemos acreditando que, se trabalhássemos com afinco e ingressássemos em uma grande empresa, estaríamos com a vida feita."

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