Brasileiros no exterior
Levantamento do Ministério das Relações Exteriores revelou que 3.030.993 brasileiros (1,57% da população) trabalham em países estrangeiros, e dois em cada três deles estão em situação irregular. Apesar do crescimento da economia brasileira, a emigração para outros países continua muito forte, o que preocupa o governo, uma vez que cabe ao Itamaraty dar proteção aos brasileiros no exterior.
Excetuada a situação específica dos agricultores brasileiros que trabalham no Paraguai, os chamados brasiguaios, que são cerca de 300 mil, a maioria dos que saem do País em busca de melhoria de vida no exterior vai para países desenvolvidos, como os EUA, países-membros da União Europeia e o Japão. E novas rotas passaram mais recentemente a ser trilhadas, como a emigração para o Canadá, onde dois brasileiros por dia entram para ficar, segundo a reportagem do Estado (26/9).
O fluxo internacional de trabalhadores é tido como normal em um mundo globalizado. Ocorre, porém, que, com a retração das economias dos países desenvolvidos, ainda sob os efeitos da crise internacional, os seus governos procuram proteger o seu mercado de trabalho contra a invasão de estrangeiros. Com isso, aumenta o cerco aos imigrantes "indocumentados", resultando na prisão, seguida de repatriação de milhares de brasileiros. Muitos vivem na clandestinidade e a tendência nos países desenvolvidos é impor restrições crescentes a imigrantes ou àqueles que podem vir a sê-lo. A Grã-Bretanha, por exemplo, passou a dificultar a entrada até mesmo de estudantes estrangeiros.
Os emigrantes brasileiros têm, basicamente, dois perfis. Há os que vão estudar no exterior e lá permanecem depois de formados, aproveitando boas ofertas de trabalho. E há os que formam a grande massa de emigrantes, pessoas com baixo nível educacional, com pouca ou nenhuma qualificação profissional, que sonham fazer fortuna no exterior. Marginalmente, existem os aliciados por redes criminosas de prostituição.
Há, na realidade, uma enorme falta de esclarecimento por parte daqueles que emigram ou têm intenção de fazê-lo. Iludidos pelo exemplo de conterrâneos que se deram bem em outros países, particularmente nos EUA, muitas pessoas ignoram os riscos de entrar ilegalmente em países desenvolvidos e não têm conhecimento de sua realidade econômica. Os sonhados ganhos escasseiam nas economias dos países desenvolvidos. Prova disso é a queda de 8,9% das remessas em dinheiro de emigrantes brasileiros para o País no período de janeiro-agosto deste ano em relação ao mesmo período de 2009.
Embora não existam soluções a curto prazo, meios devem ser encontrados para que brasileiros que pensam em trabalhar no exterior permaneçam aqui. Uma forte motivação para emigrar é a legislação trabalhista ultrapassada, que dificulta empregos formais e ignora novas formas de relação no mercado de trabalho.
Como resultado disso, o Brasil está numa situação paradoxal. Enquanto brasileiros vão procurar trabalho no exterior, estrangeiros vêm para o Brasil pelos mesmos motivos e também ingressam na informalidade. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima que entre 1,5 milhão e 2 milhões de estrangeiros – bolivianos, peruanos, colombianos, chineses e coreanos, a maioria em situação ilegal – ganham a vida no Brasil.
Outro elemento fundamental são as deficiências educacionais do País, inclusive por falta de escolas técnicas em número suficiente, capazes de preparar jovens para o mercado de trabalho. Há também falta de executivos ou de profissionais mais qualificados, que empresas estabelecidas no Brasil são levadas a recrutar no exterior. Segundo o Ministério do Trabalho, foram concedidas, no primeiro semestre de 2010, 22,1 mil autorizações de trabalho para estrangeiros, um crescimento de 18,8% em relação ao mesmo período de 2009, o que é atribuído à falta de mão de obra especializada.
Paradoxalmente, em uma fase de prosperidade no Brasil, milhares de brasileiros acreditam em um futuro melhor fora do País.